A desconexão prejudicial entre a produção de alimentos na terra e no mar
Durante o seminário da SeafoodSource em 11/11/14 sobre a aquicultura, “O importante papel da Aquicultura em alimentar uma crescente população global,” participantes viram algumas estatísticas que devem fazer os consumidores pensar de forma mais positiva com relação aos peixes cultivados.
Michael Tlusty, diretor de ciência da sustentabilidade dos oceanos no Aquário da Nova Inglaterra e instituto de investigação da Universidade de Massachusetts, em Boston, ampliou a noção de que os peixes de cultivo são muito mais eficientes na conversão de alimentos em proteína animal para alimentação humana. Segundo a pesquisa de Tlusty, é necessária uma média de 1,1 quilos de ração para crescer 1 quilo de massa corporal em um peixe criado em cativeiro (ele usou o salmão como o exemplo). Já para frangos de corte o número é de 1,7, 2,9 para porcos e impressionantes 6,8 para o gado.
Adicionando as emissões de gases de efeito estufa na equação quando se comparam os desempenhos de produção de proteína animal aquática versus a terrestre, os peixes se tornam uma opção ainda mais inteligente. A produção de gado libera cerca de sete vezes mais dióxido de carbono no meio ambiente que o cultivo de salmão; também resulta em mais de quatro vezes a produção de resíduos de nitrogênio e 2,5 vezes mais resíduos de fósforo. Nesta questão, os peixes também apresentam melhor desempenho que as aves e os suínos.
O peixe é simplesmente a escolha mais inteligente para o futuro, tendo em conta as crescentes necessidades de proteína para o planeta e sua população em rápido crescimento, a qual deve chegar a 9 bilhões até 2050. A aquicultura, como sabemos, não está livre de problemas – doenças, recursos finitos para a alimentação dos peixes, capital de investimento e educação do consumidor são alguns dos obstáculos da aquicultura – mas ela detém muito mais potencial para um futuro sustentável. De alguma forma, a aquicultura parece enfrentar um maior pressão que a produção de gado de grupos ambientalistas e menos aceitação por parte dos consumidores do que a carne bovina. Por que está desconexão?
Essa é a primeira pergunta feita a Neil Sims, co-fundador da Kampachi Farms. Sims, que fundou Kona Blue Water Farms mais de uma década atrás, listou uma série de razões, sendo uma das principais relacionada a mitos.
“O desenvolvimento da aquicultura aconteceu em um momento da história em que há mais corporativismo, muito mais comercialização, uma maior globalização, e com isso ela atingiu a grande escala de produção mais rápido [do que a agricultura terrestre]. A imagem que as pessoas têm da agricultura terrestre é de uma fazenda familiar. Isso é um mito – a maioria dos alimentos agora é produzido por grandes empresas do agronegócio. Mas as pessoas ainda se apegam a esse mito “, disse Sims. “A aquicultura teve a transição dos sistemas de pequena escala originais mais rapidamente para as grandes empresas que estão impulsionando a inovação e são capazes de atingir alta eficiência. E não é ruim você ter grandes empresas envolvidas na produção, pois elas podem investir mais em pesquisa e desenvolvimento e em coisas como os programas de certificação. Não é ruim, mas não é percebido dessa forma.”
“A aquicultura tem uma ótica diferente através do qual é avaliada”, disse Tlusty, acrescentando que, em sistemas de produção de alimentos em geral, “tudo está para ser melhorado.”
Toda a produção de alimentos tem impacto no ambiente, mas isso fica em segundo plano. O desafio para o sistema alimentar do mundo está em aumentar a produção sem causar mais danos ao meio ambiente – e este é o mantra da indústria aquícola hoje. Sims acredita que a aquicultura é a melhor solução. Não só para o ambiente, mas para a nossa saúde também.
“Precisamos comer mais frutos do mar. Nós teremos 3 bilhões de pessoas que irão atingir a classe média entre agora e 2050, se essas pessoas estão comendo carne bovina e suína, o planeta vai ter ainda mais problemas no futuro. Essa classe média precisa comer frutos do mar. A aquicultura é o único sistema que pode ser dimensionado para atender a essa demanda crescente “.
Fonte: Tradução para o português do texto original publicado em 13 de Novembro de 2014 no site www.seafoodsource.com.